Num tempo em que a direita portuguesa confirma ser ultramontana a passadista e em que se tentou retomar a ideia de Salazar como um estadista de referência, foi publicada uma biografia - escrita por Filipe Ribeiro de Menezes - que mereceu, e bem, a análise crítica de Vasco Pulido Valente, que parece ter retomado a lucidez que se lhe escapava nos últimos tempos.
O Portugal de Salazar era pobre, triste, subdesenvolvido e completamente atrasado em relação ao Mundo.
É verdade que continuamos mal, com uma crise económica profunda, uma taxa de desemprego elevada, uma justiça incapaz de perceber os tempos mediáticos - apesar dos avisos de Cunha Rodrigues - e um problema estrutural, como refere Medina Carreira.
O nosso grande défice é estrutural, o que causa o défice financeiro, ou seja, não temos criação de riqueza que possa gerar receitas, sem uma carga fiscal excessiva.
E, como gastamos mais do que produzimos, por força de um consumismo desenfreado do Estado e dos privados, chegamos a um ponto em que a bem, ou a mal, as instâncias internacionais nos imporão medidas para acabar com a "festa, que estava bonita, pá", como canta Chico Buarque da Holanda.
Mas, a verdade, por muito que custe a esta direita que ainda se mantém no século passado, uma boa parte da responsabilidade deriva da incapacidade e do medo de Salazar em desenvolver o País. Porque, para ele, desenvolvimento, implicava a possibilidade de perder o poder.
Que isto, o medo de perder o poder e as suas consequências, seja um ensinamento para uma classe política, que não tendo grande qualidade, pelo menos vive em democracia, mesmo que mitigada.