segunda-feira, 18 de outubro de 2010

“O tempo político” ( artigo publicado em 24 de Julho de 2007)

Porque o tempo é feito de memórias e quem não as têm não pode pensar em ter futuro, e porque a nossa classe política, além de estar no poder há mais de trinta anos, se esgotou e se esgota num ritmo cada vez mais acelerado, deixo aqui um texto com mais de três anos.

O tempo político não é, infelizmente, aquele que se ambiciona, mas o que o próprio tempo dá aos interventores na vida política.
Por isso, por ser irreal imaginar um futuro sem que se tenha capacidade de controlar todas as envolventes que o podem condicionar, é que eu discordo da forma como alguns políticos gerem as suas carreiras e os seus tempos.
Esta concepção firme, que os factos consolida, afasta-me do “famoso” conceito do “stop and go” que os políticos copiaram, mal, da economia e que utilizam de forma descontextualizada e sem um perfeito conhecimento da realidade, do País em que vivem e das condicionantes que motivam, a cada momento, os cidadãos.
A esta errática forma de estar na política acresce um outro factor que tem a ver com a ausência, total, de um pensamento político estruturado, ou seja, de um projecto para o País assente em ideias e em propostas que representem o estudo aprofundado das várias vertentes que, transversalmente, nos dão a dimensão e a visão panorâmica da nossa sociedade.
A política é, como se sabe, a arte de governar, mas não pode ser a arte de um dramaturgo de quinta classe ou de um actor frustrado, sem carreira.
Como tal, a regeneração da política, que os cidadãos exigem, por enquanto pelo silêncio da abstenção e qualquer dia pela agitação social, violenta e sem controlo partidário, passa, inquestionavelmente, por actores de primeira água, por autores de excelência e por ideias, projectos, soluções globais e interactivas para as questões sociais, culturais, educacionais, económicas e de cidadania, que se encontram em profunda crise.
Este é o desafio a vencer e que pode evitar o descalabro de uma classe política em queda e dilacerada por questões menores.
A política portuguesa precisa de um rejuvenescimento dos seus actores principais, porque alguns deles andam há tempo demais a dizer a mesma coisa, sem que nada façam de novo ou retirem lições dos erros do passado.
E, quando falo em rejuvenescimento não me refiro à faixa etária, porque alguns dos “jovens” da política já são mais idosos do que o famoso “Matusalém”.
A idade mental, a abertura a um novo mundo, a novas realidades sociais e política, a um século XXI em permanente transformação, é o elemento chave de afirmação da classe política que pode mudar Portugal.