sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O acto de julgar

O acto de julgar é dos mais nobres que se pode ter em democracia, porque se mantém como a reserva moral de qualquer sociedade.
É difícil julgar, decidir da vida dos outros e, por essa via, influenciar a liberdade, a situação patrimonial ou familiar dos cidadãos.
As decisões que dizem respeito a menores são, porque recaem sobre crianças indefesas, as que deveriam merecer um especial cuidado, com uma envolvente interdisciplinar que limitasse ao mínimo a possibilidade de danos irreversíveis ou geradores de desequilíbrios emocionais e afectivos que podem marcar a vida de uma criança até ao seu estado adulto.
Por isso entendi, como cidadão, manifestar o meu direito à indignação, face à decisão do Juiz de Guimarães que decidiu sobre o futuro da criança russa, a Alexandra, e que a entregou à mãe biológica.
Essa indignação cresceu face à entrevista que o referido magistrado concedeu a um canal televisivo e à fragilidade da argumentação com que sustentou a sua decisão.
O erro é humano, mas os erros no acto de julgar devem servir para evitar que, no futuro, os mesmos se repitam, porque a vida dos cidadãos não pode estar sujeita a erros da área de reserva da defesa da cidadania, que são os Tribunais.
A Alexandra é um exemplo, mas pelos tribunais passam milhares de “Alexandras” que não têm a projecção mediática da menina russa. E, como me disse, um dia destes um quadro superior das finanças, que se viu apanhado mas malhas de uma notificação para o pagamento de uma coima por infracção rodoviária, só quem passa pelas coisas é que dá valor aos erros que se cometem. E que, por via disso, passou a ter outro comportamento perante determinadas situações.
A Justiça é para as pessoas e julgar é um acto de cidadania e não um mero processo estatístico.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um discurso fraco e um discurso forte

A tomada de posse do novo executivo ficou marcada por duas visões diferentes do futuro e por um discurso fraco, de um Presidente da República fragilizado, e por um discurso forte, de um Primeiro-Ministro que quis dizer, de forma linear, ao Presidente da República que o partido que ele lidera mereceu o apoio dos eleitores, não precisando do Presidente da República para nada.
Sejamos claros, neste momento, José Sócrates, por muito que a oposição finja e diga que não é assim, tem o controlo da situação e pode condicionar, sem grandes dramas, a evolução da legislatura.
A Assembleia da República será dissolvida quando ele quiser, se quiser e servir os propósitos do Partido Socialista e a legislatura durará o tempo necessário a potenciar uma maioria absoluta socialista.
No entretanto o PSD vai-se esgotando num processo autofágico confrangedor, que só não tem maiores proporções porque existe uma recusa visceral de muitos sectores moderados e do centro-direita à figura de Paulo Portas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Um pedaço de mau humor

Hoje, ainda tive coragem para assistir na TVI24 a um programa de humor sobre a formação do novo governo socialista. A estrela da coisa era um jovem do “31 da Armada”, que tentava imitar, mal, o Ricardo Araújo Pereira. É o que dá quando se faz “sit comedy” sem se ter capacidade para tal ou, como diz o Zé Povo, “quem te manda a ti sapateiro tocar no rabecão”

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Guerra de Alecrim e Manjerona

A luta pela sucessão no PSD, dinástica ou popular, pré ou posterior ao 5 de Outubro, está ao rubro, porque os barões sentem-se ameaçados e os potenciais candidatos a barões não querem perder a possibilidade de lá chegar.
O PSD não está, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, dividido por querelas ideológicas- do que eu discordo, porque a verdade é que, rasgados os princípios fundadores não tem ideologia, nem projecto - mas sim por confrontos pessoais, no objectivo de alcançar o poder.
Tudo porque se vive na ilusão de que dentro de dois anos, mais coisa menos coisa, o PSD regressará ao Governo.
"Abençoados os pobres de espírito porque deles será o reino dos Céus"!, é o conselho que se pode dar a todos os que pensam deste modo.
E que tal refundar, repensar, reformular, pensar, ao menos, no que se pretende, no que foi e naquilo em que se transformou o PSD e tentar, com um pequeno esforço, perceber que estamos no século XXI?
Por este caminho, dificilmente o PSD sairá deste impasse e, com a perda sucessiva de poder nas autarquias pode vir a ter o destino traçado.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Na Hora da Verdade

A derrota do PSD do passado dia 27 de Setembro impõe algumas reflexões que gostaria de partilhar com todos os que acreditam que é possível mudar Portugal num quadro democrático, personalista e liberal, sem perder a noção dos equilíbrios sociais, ou seja, sem esquecer as assimetrias económicas bem como a imposição de elevar o nível económico, social e educacional de um povo que perdeu trinta anos e que mantém um atraso significativo, mesmo para alguns dos novos países da União Europeia. É um facto que a actual direcção do PSD foi eleita, democraticamente, mas esse facto não pode ser inibidor, nem castrador, de críticas, desde que visem uma reformulação do PSD e repensem qual o posicionamento dos sociais-democratas no futuro. Não concordo com Vasco Pulido Valente quando afirmou que “ a direita responsável do PSD está sem partido e precisa de um”, porque esta questão levanta, em si, duas outras questões: uma que só poderá ser corolário do amplo debate que a realizar sobre o papel do PSD e da direita em Portugal e outra, profundamente redutora, que ficciona o mundo a preto e branco, ou seja, apenas admite a dicotomia esquerda/direita, errando o alvo, a não ser que Vasco Pulido Valente queira meter no saco da direita todos os que não se identificam com o PCP e com o Bloco de Esquerda. Também nunca partilhei da clarividência de José Pacheco Pereira que dava como certa a vitória, com maioria absoluta, de José Sócrates. A verdade, é que face aos resultados eleitorais admito como possível que José Sócrates vá governar sozinho e que obrigue os partidos à direita e à esquerda a viabilizar tudo o que não possam recusar sob a condição de perderem eleitorado. Não estou a ver o Bloco de Esquerda e o PCP a inviabilizarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, só porque a proposta é do PS. É claro que existe sempre a possibilidade de o Bloco, o CDS e o PCP, por antecipação, condicionarem o governo e a maioria socialista, apresentando propostas de lei que obriguem o PS a votar contra, por não serem apresentadas por eles, ou a viabilizar e perder essas bandeiras. A questão que se colocava antes das eleições era a de saber como impedir que o PS ganhasse as eleições? A outra questão era a de saber se o PSD era a alternativa? Ou se teria razão António Barreto quando afirma que “o PSD chegou ao fim”, que se encontrava “esgotado”. A verdade, nua e crua, é que o sistema político-partidário nascido com o 25 de Abril está esgotado. Trinta anos de democracia, construída a partir de um golpe militar, com a criação de partidos sem uma base ideológica forte, mas em função da necessidade de responder à existência de dois partidos de esquerda já constituídos, o PCP e o PS, levou, inevitavelmente, a esta situação. É um facto que o PSD tem um ADN próprio, uma idiossincrasia específica, fruto do pensamento liberal, democrático e personalista que vinha da Ala Liberal do regime, mas que não possuía, na sua constituição, um “corpus ideológico” estruturado. Basta ler o primeiro programa do partido para se perceber que o ADN está lá, mas que se foi perdendo ao longo dos anos de exercício do poder, fruto de uma “praxis” de “real politik” que se preocupou mais com a ocupação do poder do que com a criação de um corpo forte de quadros e militantes, com princípios, objectivos e noção de Estado. Chegados aqui, para onde vai o PSD? Esta é a encruzilhada com que, mais dia menos dia, os seus militantes terão de se confrontar. Quais os objectivos que podem mover os militantes de um partido que, neste momento e face à linha de rumo traçada, discordam da actuação da direcção do PSD? Apesar de um resultado negativo nas autárquicas, uma vez que o PSD perdeu vinte e tal Câmaras, entre as quais uma – a de Leiria – que foi uma aposta pessoal de Manuela Ferreira Leite, os neo-cavaquistas estão entrincheirados no poder, estilo “Aldeia Gaulesa”, sem a inteligência e graça do Astérix e sem a força e a garra de Obélix. Começa a ser doloroso ouvir as reacções dos dirigentes do PSD, num auto-elogio invocando a vitória nas eleições e jogando no controlo dos danos para condicionar a sucessão, de forma a tentar manter um poder cada vez mais afastado da base social que fez do PSD o maior partido português. Apesar de tudo, esta convulsão, que pode ser intensa, dá a possibilidade de refundação do PSD. Agora uma coisa é certa, o PSD, se quer ser uma alternativa de governo e continuar como um partido aglutinador das múltiplas camadas sociais, tem de mudar de caminho. Tem e deve deixar de se preocupar com os barões falidos de uma monarquia inexistente e redescobrir uma ligação de empatia com os portugueses. Ou isso, ou o CDS continua a subir e o PS alcança o velho sonho de Soares de representar todo o centro-esquerda português ou o espaço social-democrata.
in Opinião dia 16/10/2009, Semanário Grande Porto on line.pt

domingo, 18 de outubro de 2009

E que tal fazer as directas já!

Valeu a pena resisitir ao sono e ver o "Eixo do Mal". Caso os militantes do PSD não tenham visto, procurem ver a repetição hoje. Vale a pena e é fundamental que comecem a consciencializar-se de algumas verdades, mesmo ditas em tom jocoso.... Poque isso ainda é o mais grave para a credibilidade do PSD.
Por isso, talvez fosse útil que as directas se realizassem rapidamente, ainda mesmo antes da discussão do Orçamento do Estado. E que alguns dos deputados eleitos pelo círculo de Lisboa renunciassem ao seu mandato para não provocar mais danos ao PSD.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cinco segundos, pensem cinco segundos!

Os egocêntricos que estão na liderança, ou próximo da liderança do PSD, deveriam ler, com atenção, o artigo, de hoje, de Vasco Pulido Valente. O mesmo se aconselha aos militantes e simpatizantes social-democratas.
E depois, serenamente, largando o umbigo e abrindo-se à sociedade, pensar um pouco. Não precisava de ser muito tempo. Cinco segundos, seria o suficiente.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Um Partido encurralado ou talvez não?

O “I” noticia que José Sócrates começa hoje a reunir com os partidos para encontrar uma solução estável de governo. E avança que o CDS de Portas é encarado no PS como a possibilidade mais realista
Ricardo Jorge Pinto, ontem, na RTPN, colocou uma questão interessante quanto a esta hipótese, que diz respeito ao esvaziamento do PSD. Esta possibilidade é real a as fracturas internas podem levar à debandada para o CDS e para o PS. Para contrariar esta hipotese é fundamental uma nova forma de fazer política e uma nova equipa.
Mas a nova equipa não pode ser a velha equipa recauchutada, nem a nova forma de fazer política pode ser o afastamento da base social de apoio do PSD.
Além de reconquistar a base tradicional de apoio, o PSD deve investir na captação das nova classes urbanas e nos jovens, num conceito diferente daquele que pautou a actuação da JSD ao longo dos anos.
Um partido aberto à sociedade, ao desenvolvimento à criatividade, à cultura e com um projecto para o País. Será assim tão difícil?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Os vencidos da vida

O Bloco de Esquerda, o CDS e o PSD foram os grandes derrotados das eleições autárquicas.
O PCP iniciou a sua queda autárquica, sem retorno, ao perder Beja, um dos bastiões do seu poder autárquico e, simultâneamente, perdeu eleitores na área metropolitana de Lisboa e Porto.
Quanto ao Bloco e ao CDS comprova-se que não passam de partidos que colhem ganhos nas legislativas, por força de canalizarem o voto de protesto dos eleitores, que optam por votar em partidos xenófobos, reaccionários e demagógicos, mais não seja para contrariarem os grandes partidos de poder e manifestarem a discordância da classe média, que apenas se preocupa com o seu pequeno bem-estar e não possui convicções.
O PSD, diga a sua direcção política, o que disser, perdeu mais de vinte câmaras e não capitalizou, mais uma vez, o descontentamento dos portugueses em relação ao Partido Socialista.
Ou, possivelmente, os portugueses não estão tão descontentes como se diz com os socialistas ou não encontram num discurso manifestamente autista da direcção do PSD o ponto de referência para alterar o sentido de voto.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Não há coincidências

Ontem, por mero acaso!, Pacheco Pereira cruzou-se, na Baixa Lisboeta, com António Costa. No dia anterior, foi Carvalho da Silva que, igualmente por coincidência, foi tomar café à Brasileira e encontrou António Costa.
Sabendo-se o que um e outro pensam, vamos todos acreditar que o Pai Natal chegou mais cedo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O PSD e os Tinos de Rãs

Nuno Morais Sarmento criou uma nova classe entre os militantes do PSD. Já havia os militantes de base ou laranjas, os jovens social-democratas ou laranjinhas, os putativos candidatos a qualquer coisa, os notáveis, os barões, os senadores, os ex-ministros, os ex-deputados, os ex-candidatos e os ex-futuros qualquer coisa. Agora passa a haver uma classe intermédia: os "Tinos de Rãs" que são todos os militantes com opinião e os militantes que não se sujeitam aos barões e baronetes. Que são todos os que querem falar do PSD e da sua liderança, antes de os iluminados - esta uma classe de supra-numerários - entenderem que chegou o momento de abordar a questão.
Só falta lançar uma outra classe: a dos "palhaços ricos", para que o PSD volte a ser um partido transversal à sociedade portuguesa.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A ética republicana

Cavaco Silva pediu transparência na vida pública e considerou que é preciso um esforço acrescido para promover a ética republicana.
Concordo, integralmente, com esta posição e defendo que essa transparência, e a ética republicana, passa pela não interferência na escolha da liderança de um partido ou pelo condicionamento dessa escolha.
É nisso que se traduz a proximidade entre os cidadãos e os eleitos, ou seja, na ausência de intermediários que tenham um efeito redutor nas opções.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O nervosismo de Belém

O nervosismo que paira em Belém pode ter ficado explicado com as notícias da hipotética candidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República em 2011.
Cavaco Silva sabe que, num quadro destes, nunca conseguirá obter o apoio do PS, por acção ou omissão, perdendo, igualmente, o apoio de muitos sectores moderados e de alguns empresários.
Ou seja, Cavaco Silva percebeu que pode ficar na história como sendo o primeiro Presidente da República a perder uma reeleição.
Esta nova realidade, aliada à derrota do PSD, causou uma enorme perturbação, que impediu o Presidente da República de, com discernimento, avaliar os danos que a sua intervenção de terça-feira lhe pode ter causado, bem como o facto de, agora, o Partido Socialista se sentir legitimado para abrir uma guerra sem quartel contra a Presidência, mesmo afirmando o contrário.
Em política, os erros pagam-se caro e Cavaco Silva, que é talvez o mais profissional dos políticos portugueses em actividade, já o deveria saber.