quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A culpa colectiva, a morte do doente, o remédio que não cura.

Jorge Sampaio dizia, e bem, que havia vida para além do défice. A voz popular costuma dizer que os doentes podem morrer da doença ou da cura. O FMI e outras organizações internacionais, por mais respeitáveis, técnicamente, que o sejam, como diz Cavaco Silva, limitam-se a aplicar uma cartilha, idêntica em todo o lado, que não tem em consideração os efeitos colaterais do "tratamento".
Portugal, ontem, viu-se confrontado com um brutal aumento do IVA e com uma redução da despesa simpática, uma vez que o essencial - a anacrónica estrutura administrativa do Estado Novo - se mantém. Ou seja, enquanto não se reformar a estrutura do Estado, o despesismo manter-se-á elevado e a única solução é aumentar o IVA.
Só que isto tem um limite e o limite é a morte da economia, das empresas e do consumo, o que determinará o aumento das insolvências e da despesa social com o subsídio de desemprego.
Sei que é fácil falar e criticar, e que o mais difícil é fazer, porém, a verdade, é que a classe política portuguesa nunca revelou vontade em mudar nada. Todos os políticos, desde o 25 de Abril, são responsáveis pelo estado a que a nossa economia e as nossas finanças públicas chegaram. Por um único motivo: falta de coragem e de visão estratégica.

sábado, 25 de setembro de 2010

Uma proposta: que as reuniões privadas entre Passos Coelho e Sócrates sejam gravadas em suporte vídeo.

Houve tempos em que um primeiro-ministro (Balsemão) e um Presidente da República (Eanes) faziam as reuniões de quinta-feira com dois gravadores para que não houvesse dúvidas, quanto aos temas e às fugas de informação.
Quanto às fugas de informação, essas continuam e o Estado, e a Justiça portuguesa, mais se assemelham a um passador com furos bem largos.
Por isso não estranhei com a decisão de Passos Coelho de só pretender reunir com Sócrates na presença de testemunhas. Apenas um conselho: como algumas testemunhas poderão não ser de confiança, o melhor é levar mesmo o gravador. É tecnologicamente mais avançado e mais credível. Ou, em opção, a gravação, privada, em suporte vídeo das reuniões. O que, sempre seria um bom material para no futuro se analisar a vida política portuguesa.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pagar para ver.

A oposição diz que o FMI está a chegar num dos próximos voos internacionais. Alguns economistas e jornais económicos dizem o mesmo. Miguel Sousa Tavares diz que a chegada do FMI é como um golpe de Estado que não se anuncia. Um matutino afirma que o FMI disse o mesmo da Grécia antes de "arrombar a porta". O Governo diz que não convidou o FMI e que a situação está controlada. O Presidente Cavaco Silva afirma que o FMI não vem, se fizermos os trabalhos de casa, imagem apropriada ao início do ano lectivo.
Enfim, no meio disto tudo, alguém há-de ter razão, o mais grave é que temos de pagar para ver quem ganha este "mind game" pré-eleitoral.

sábado, 18 de setembro de 2010

A candidatura alternativa de direita, o castigo a Cavaco Silva e a solução mais económica e mais penalizadora.

A direita portuguesa, em concreto alguns sectores da direita portuguesa, não se pauta pela racionalidade e pela inteligência política. Continua trauliteira, na senda do que de pior a extrema-esquerda instalou em Portugal e não tem projecto, ideias ou ideais.
A questão presidencial, e as críticas a Cavaco Silva, é o exemplo dessa ausência de estratégia e de ideias.
Alguns sectores da direita mais radical estão zangados com o Presidente da República e não se revêem na sua actuação. Têm toda a legitimidade para discordar e para expressar essa discordância. E têm, igualmente, legitimidade para “castigar” Cavaco Silva, dificultando a sua reeleição.
Mas será a apresentação de uma candidatura alternativa à direita, a solução para concretizar esses objectivos.
Um dos potenciais candidatos já explicou que lançar uma candidatura era complicado, por diversas ordens, nomeadamente por questões financeiras e por questões logísticas (intimamente ligadas às questões financeiras).
E a verdade é que uma candidatura, sem sentido, sem objectivos, a não ser o de “castigar” Cavaco Silva, estaria votada ao fracasso e a um resultado que dificilmente ultrapassaria um cento (já com muito boa vontade).
Por isso, se a direita está, efectivamente, zangada com Cavaco Silva, tem uma alternativa mais económica e mais “castigadora” para o recandidato: votar em Manuel Alegre, obrigando Cavaco Silva a uma segunda volta e destruindo a tese de que as eleições presidenciais irão ser um passeio para actual Presidente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Em nome da Justiça

O ex-Procurador-Geral da República, Cunha Rodrigues, dizia que não era a justiça que estava em crise, mas sim a sociedade. Concordo, plenamente, com esta ideia, uma vez que a sociedade portuguesa desceu ao patamar zero da vida em colectividade, desde a vertente social à económica, passando pelo ensino e pela cultura.
O baixo nível da programação televisiva, é um dos exemplos que comprovam esta asserção, como resulta da análise dos programas com maior audiência e, ainda ontem, tivemos quatro canais, sendo um deles público, a discutir o despedimento de Carlos Queiroz, num quadro em que os despedimentos de trabalhadores que auferem os salário mínimo é uma realidade recorrente.
As escolas estão no estado lastimável, que todos sabemos, com mau aproveitamento escolar e com um manifesto desrespeito pela função do professor.
De cultura é melhor não falar, uma vez que a iletracia reinante afasta a generalidade da população afastada da leitura e dos eventos culturais.
Salvava-se, segundo Cunha Rodrigues, a Justiça, que ainda era o sector que mantinha a consistência, neste quadro de derrocada social.
Os tribunais eram respeitados, os juízes também e os portugueses acreditavam que, o bastião seria impugnável.
Os últimos tempos arrastaram a justiça para o epicentro da crise, com sondagens, que valem o que valem, a colocar a Justiça abaixo dos políticos.
O que está em crise, por mais voltas que se dê para o negar, é a, aparente, credibilidade da justiça, perante a incapacidade de resposta, em tempo útil, de alguns casos de relevância social, deixando os cidadãos apreensivos, ainda para mais num tempo mediatizado, on-line, em tempo real.
Neste quadro de incertezas, seria bom, para o retomar da justiça, como referencial de segurança, que todas estas situações fossem rapidamente esclarecidas. A justiça é a última das garantias do Estado de Direito.

sábado, 11 de setembro de 2010

09112001

Faz hoje nove anos, estava num debate instrutório do Tribunal de Instrução Criminal de Coimbra. Tinha chegado, no dia anterior, de Maputo, onde participara na FACIM.
Quando acabei a diligência, entrei no carro, liguei o telemóvel e o telefone tocou, de imediato. Era a Ana Pereira (que mais tarde partiu para Nova Iorque e fez um excelente trabalho jornalístico sobre os acontecimentos posteriores) aterrorizada, a dizer que estavam a cair aviões em Nova Iorque.
Sintonizei, de imediato, a TSF e fui tomando noção do que se estava a passar, do ataque bárbaro lançado por radicais islâmicos e que atingiu os Estados Unidos, mas fundamentalmente matou milhares de cidadãos inocentes.
Senti-me, como certamente milhões de pessoas por todo o Mundo, indefeso perante circunstâncias derivadas de um radicalismo sem sentido.
Depois desse dia, o Mundo mudou, a conflitualidade implodiu e a crise económica e financeira entrou, sem barreiras, por todo o lado. Os radicalismos, apesar disso, continuaram vivos e cada vez mais agressivos.
Estes nove anos foram tempos de mudança e de transformação da sociedade, mas continuamos sem saber para onde vamos.
E, nesta indecisão, nesta ambiguidade, o Mundo não para, mas continua numa deriva sem sentido.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Citações

Lao Tse dizia “ ao governar, o sábio esvazia a mente do seu povo, à medida que lhe enche a barriga e lhes fortalece os ossos, a sua vontade enfraquece, pelo que mantém, sempre, o povo isento do conhecimento e livre do desejo, para que o inteligente nunca ouse agir”.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A "janela de oportunidade" e os tontos.

A “janela de oportunidade” para o Presidente da República dissolver a Assembleia da República termina amanhã.
Meia dúzia de “tontos” andaram embevecidos com esta possibilidade, a chamada possibilidade impossível, e tiveram sonhos de poder, fizeram distribuição de cargos, de chefes de gabinete e de motoristas. Até já havia administradores para as empresas públicas e um amplo movimento de reconstrução do País que, qual gabinete de salvação nacional (lembram-se desta época de “terror”) iria levar Portugal para o primeiro lugar de desenvolvimento económico, acima da Alemanha.
Esqueceram-se de apresentar um plano de desenvolvimento, de dizer quais as áreas em que Portugal iria apostar, mas isso revelava-se, manifestamente, secundário.
O que importava era a “janela de oportunidade”. Tinham um projecto para o País: não. Mas para quê ter um projecto se “Deus faz entrar pela janela o que deixa sair pela porta”.
É evidente que Portugal não pode continuar como está e que o corte na despesa pública é uma exigência nacional. E o corte deve ser efectuado na despesa desnecessária e não na despesa social.
A redução da despesa com os gabinetes, a redução da despesa corrente, o fim dos contratos, sem concurso, com as sociedades de advogados para fazerem um trabalho que pode e deve, em nome da transparência, ser efectuado pelo Ministério Público, o fim dos Governos Civis, a redução do número de autarquias, de empresas municipais, a racionalização da gestão dos hospitais, enfim, só com estas pequenas coisas, o défice levaria um profundo golpe.
É evidente que, para além de cortar na despesa é preciso criar riqueza para obter receita fiscal, sem ser à custa do aumento intolerável dos impostos.
Mas para isso é preciso ter uma ideia para Portugal, o que, os defensores da “janela de oportunidade” comprovaram, até este momento, não possuir.

domingo, 5 de setembro de 2010

A biografia de Salazar, a pobreza de um País e o regresso à lucidez de Vasco Pulido Valente

Num tempo em que a direita portuguesa confirma ser ultramontana a passadista e em que se tentou retomar a ideia de Salazar como um estadista de referência, foi publicada uma biografia - escrita por Filipe Ribeiro de Menezes - que mereceu, e bem, a análise crítica de Vasco Pulido Valente, que parece ter retomado a lucidez que se lhe escapava nos últimos tempos.

O Portugal de Salazar era pobre, triste, subdesenvolvido e completamente atrasado em relação ao Mundo.

É verdade que continuamos mal, com uma crise económica profunda, uma taxa de desemprego elevada, uma justiça incapaz de perceber os tempos mediáticos - apesar dos avisos de Cunha Rodrigues - e um problema estrutural, como refere Medina Carreira.

O nosso grande défice é estrutural, o que causa o défice financeiro, ou seja, não temos criação de riqueza que possa gerar receitas, sem uma carga fiscal excessiva.

E, como gastamos mais do que produzimos, por força de um consumismo desenfreado do Estado e dos privados, chegamos a um ponto em que a bem, ou a mal, as instâncias internacionais nos imporão medidas para acabar com a "festa, que estava bonita, pá", como canta Chico Buarque da Holanda.

Mas, a verdade, por muito que custe a esta direita que ainda se mantém no século passado, uma boa parte da responsabilidade deriva da incapacidade e do medo de Salazar em desenvolver o País. Porque, para ele, desenvolvimento, implicava a possibilidade de perder o poder.

Que isto, o medo de perder o poder e as suas consequências, seja um ensinamento para uma classe política, que não tendo grande qualidade, pelo menos vive em democracia, mesmo que mitigada.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Moçambique

Gosto de Moçambique, do seu povo e da tranquilidade que senti nos dias que lá passei, apesar de se perceber que as desigualdades eram enormes e que o fosso entre a maioria do povo e a classe média e média-alta era enorme.
Com a crise internacional, tornava-se inevitável que alguma coisa poderia acontecer nos países mais pobres e, em concreto, em Moçambique.
É nestes momentos que a comunidade internacional deve actuar, pois o povo moçambicano, mesmo que por erro dos seus governantes, não pode ser penalizado. O nível de pobreza é grande, e o agravamento do custo do pão, do arroz e da água, abrem o caminho à fome.
Espero que os apoios a Moçambique, para além do investimento e a criação de postos de trabalho, passem, igualmente, pelo combate à fome e às profundas desigualdades sociais.