sábado, 31 de janeiro de 2009

Entre Portugal e África, o mar salgado


foto cedida por um leitor


sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O tempo pode estar a esgotar-se

O Primeiro-Ministro, o Governo, o Partido Socialista e o Presidente da República têm, em conjunto, um problema para resolver até ao início de Fevereiro, antes do Congresso socialista.
E esse problema tem de ser resolvido ou, contrariamente à manifestação de vontade dos empresários portugueses, transmitida pelo Diário Económico, o País pode ficar mesmo ingovernável e totalmente descredibilizado.
Sem colocar em causa a integridade de José Sócrates, já não estamos nesse patamar de discussão e de análise.
A grande questão é saber se o Primeiro-Ministro se encontra, ou não, confortável na posição que decorre da investigação ao caso Freeport.
Caso esteja confortável, como tudo indica, deveria dar um sinal, inequívoco, com a instauração de um processo-crime contra o seu tio, como defenderam Pacheco Pereira e Lobo Xavier, intentar acções contra os media que persistem em chamar o seu nome para as primeiras páginas e, por último, em abrir as suas contas bancárias.
A par destas medidas, deveria deixar de falar no assunto, bem como evitar referências a uma campanha negra, porque acaba por empolar o impacto das notícias que vão saindo, cirurgicamente, vindas sabe-se lá de onde.
Tudo isto deveria servir, já agora, para fazer uma correcta avaliação do sistema judiciário português, porque neste caso é o Primeiro-Ministro que está em causa, mas o cidadão comum não pode, da mesma forma, ser sujeito a esta demora e a esta devassa processual.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Em "su sitio"

Uma das intervenções mais claras da cerimónia da abertura do Ano Judicial foi a de Noronha do Nascimento que, sibilinamente, colocou em "su sitio" a relação entre os Magistrados Judiciais e o Ministério Público ao afirmar que, no que diz respeito ao controlo do arquivamento do inquérito, o mesmo deveria deixar de ser da competência do Ministério Público e passar para o juiz de instrução».
E foi mais longe, para que não restassem dúvidas, pois considerou que, ao conferir "a uma estrutura personalizadamente hierarquizada como é o MP o direito de arquivar aquilo que, ela própria, investiga sob a câmara escura de um segredo de justiça e com exclusão do direito de recorrer é, verdadeiramente, conferir um poder quase incontrolável de auto-regulação».
Está tudo dito, mesmo para os mais distraídos, que ainda não compreenderam a essência do problema.
Por outro lado, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça não deixou de colocar ou recolocar uma questão pertinente -muito bem aproveitada por Francisco Louça no debate quinzenal com o Governo - respeitante ao sigilo bancário.
«Os sigilos bancário e fiscal defendem normalmente privilégios de grupo; não haverá, por isso, investigação criminal fiável e consequente dos crimes de colarinho branco sem o acesso da administração legitimada à vida bancária dos cidadãos".

Esta é, como realça, por exemplo, Saldanha Sanches, uma das pedras de toque do combate à corrupção, porquanto, face à dificuldade de se encontrar os elos de mutação do dinheiro, é possível alcançar esses objectivos pela via fiscal.

No quadro de suspeição em que se vive e face aos sucessivos escândalos financeiros que abalaram o sistema económico, talvez fosse tempo de se repensar todas estas questões, uma vez que o que está em causa não é apenas a corrupção, mas também o tráfico de droga, de pessoas, de armas e os desvios de dinheiro para o apoio aos países do chamado "terceiro mundo".


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Não caiu em saco roto

O Diário Económico, hoje, ao dar relevo à subida da bolsa portuguesa mudou o seu chavão tradicional do "bom sentimento" vindo da Europa para justificar a subida do PSI 20, optando por outra formulação, ou seja, justificou a subida do índice português pelos "bons resultados na Europa".
A crítica que fiz não caiu em saco roto, porque o receptor foi inteligente e soube mudar. Infelizmente nem sempre acontece encontrarmos quem tenha capacidade para entender a crítica, quando ela é feita de forma objectiva e construtiva.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O BBVA e o BCP

O BBVA quer comprar o BCP. Que surpresa! Só me espanta a "ingenuidade" do Banco de Portugal e do poder político, de Belém a S. Bento.
Era bom de ver que o BBVA quereria entrar num dos grandes bancos portugueses logo que surgisse uma boa oportunidade de negócio.
Essa oportunidade acabou por chegar, em consequência de uma "guerra" que arrastou o BCP para valores muito baixos, tornando a instituição apetecível.
Agora é só esperar para ver todos a fingirem que dão um ar sério à coisa, que avaliam o interesse nacional e depois, por causa desse interesse e da necessidade de reforçar o sector financeiro para melhor responder à crise estrutural que afecta o nosso País e o Mundo, concluir o negócio.
Afinal é tudo tão simples e tão linear!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Filhos e enteados

Três dos maiores bancos portugueses deram condições extraordinárias a Joe Berardo para honrar os seus compromissos, derivados do financiamento, por essas mesmas instituições, de um valor que se estima em mil milhões de euros para especulação bolsista.

Compreende-se a posição dos bancos, mas também seria legítimo que os accionistas exigissem a demissão dos responsáveis que autorizaram as operações sem cobertura de garantias, a não ser as próprias acções que o conhecido especulador financeiro adquiriu.

Depois de ter beneficiado de um negócio altamente lucrativo para ele e muito mau para o Estado - a famosa colecção Berardo, cuja titularidade seria útil que se apurasse - , o Comendador volta a gozar de um estado de graça que não é tradicional nas nossas instituições bancárias.

Duas coisas seriam fundamentais para assegurar que o nosso sistema bancário é sólido e transparente: a demissão dos administradores que viabilizaram os financiamentos e a regulação dos empréstimos para aquisição de acções em bolsa.

A vocação da banca é fazer dinheiro, mas também o pode fazer apostando em sectores produtivos do nosso tecido económico. Se eles existirem, claro.

Fernando Amaral

Fernando Amaral foi um homem de uma enorme verticalidade, de grande rigor político e com um elevado sentido cívico.
Para além, disso era um “senhor”, um político com inteligência, com cultura e com sentido de Estado.
Para mal da política portuguesa, começam a faltar homens como Fernando Amaral.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Por uma questão de Estado

José Sócrates encontra-se numa encruzilhada de consequências imprevisíveis e que podem condicionar o seu futuro político
Na véspera de um ciclo eleitoral que irá definir os próximos quatro anos de poder em Portugal e, em consequência desses resultados, a recandidatura de Cavaco Silva à Presidência da República, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro vê-se confrontado com a suspeita de envolvimento no favorecimento do grupo económico inglês que construiu o Freeport.
Por uma questão de princípio não faço juízos de valor sobre ninguém e acredito, contrariamente a muitos dos fariseus que agora dizem não querer falar da situação que envolve o primeiro-ministro, na inocência de qualquer cidadão, até à condenação com trânsito em julgado.
Por este motivo, a análise a fazer é merante política e tendo em consideração as perspectivas da evolução do caso.
Em primeiro lugar é fundamental que a Procuradoria-Geral da República, em tempo útil, ou seja até ao Congresso do Partido Socialista, venha esclarecer os portugueses se José Sócrates é suspeito da prática de qualquer acto passível de sanção penal e, nesse caso, constitui-lo arguido ou se nada tem a ver com isto e, deste modo, colocar um ponto final nesta suspeita.
Se nada tiver a ver com o caso Freeport, a questão fica resolvida e o ataque que sofreu pode beneficiá-lo junto do eleitorado.
Se os indícios existentes nos autos apontarem para a constituição de arguido, a Procuradoria-Geral da República não pode esperar pela véspera das eleições para clarificar a situação, sob o perigo de se pensar que existe uma conexão entre a acção da justiça e os actos eleitorais.
A importância do caso, que faz as primeiras páginas dos jornais e das televisões, resulta das funções desempenhadas por José Sócrates.
Em nome do Estado e da democracia, Portugal, neste tempo de profunda crise económica e social, não pode ter um primeiro-ministro sob suspeita de actos de corrupção.
É tempo de se entender que os jogos de poder resultam num determinado contexto, mas que podem ser fatais para a democracia.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Um mau sentimento ou um mau jornalismo?

O Diário Económico, um dos chamados jornais de referência no jornalismo económico, tem duas frases chave: "O PSI 20 cai com mau sentimento vindo do exterior", ou em caso contrário:" O PSI 20 sobe com bom sentimento vindo do exterior".
Leiam as últimas duzentas edições do jornal e podem verificar que as subidas e descidas da bolsa portuguesa são sempre ligadas ao "bom ou ou mau sentimento vindo do exterior".
Para um jornal económico, a repetição, sistemática, da mesma frase, é de uma pobreza franciscana e revela, acima de tudo, uma muito má qualidade informativa e uma total incapacidade de análise.
Pode-se mesmo dizer que é um mau sentimento vindo do interior do jornal que leva a esta falta de cuidado, de respeito pelos leitores e de péssimo jornalismo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Barak Obama - Os princípios e a sua aplicação

O discurso de Barak Obama e, principalmente, as primeiras medidas que tomou, mereceram elogios por parte dos analistas políticos.
Leite Pereira, por exemplo, disse, e bem, que a intervenção de Obama nada mudou de substancial na política norte-americana, mas mudou os princípios.
É esse o desafio que o novo presidente tem pela frente, para além de devolver dinamismo e gerir positivamente a expectativa dos seus cidadãos quanto à economia, o desemprego e a assistência social.
Estas, quer os europeus queiram, quer não, são as prioridades dos norte-americanos e vão ser as prioridades da nova administração.
Um dos pontos mais marcantes da intervenção de Barak Obama, na conferência de imprensa de ontem, diz respeito às regras que pretende impor aos lobistas.
Este tema é marcante, mesmo na perspectiva portuguesa, quando se questiona o sub-mundo do lobismo em Portugal, nomeadamente nas grandes obras públicas e nas recentes intervenções do Governo na Banca e em outros sectores da economia.
Os grupos organizados de lobing que "mandam", por vezes, no voto dos congressistas, e que contribuem com elevadas quantias para as campanhas eleitorais, não vão gostar destas medidas.
No entanto, todos sabemos, por experiência, que os norte-americanos têm uma enorme capacidade de adaptação e de criatividade para contornar certas iniciativas legislativas.
Vamos ver até onde é que os princípios que Obama defende se sobrepõem aos interesses fortemente instalados na sociedade.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A mediatização tem destas coisas

Num Mundo mediatizado tudo se sabe e os juízes devem resguardar-se de serem notícia, pela negativa.
Tudo isto a propósito do processo de fraude com falências, julgado nas Varas Criminais do Porto, cuja ocorrência mais relevante foi a medida das penas, que foge ao padrão tradicional - e isso talvez seja um mérito - mas em que temos de relevar uma queixa-crime apresentada por uma juíza contra uma colega.
Na sequência do incidente, foi apresentada uma participação crime na Procuradoria-Geral Distrital do Porto, por alegado crime de injúria. Esta queixa terá sido entretanto arquivada, por ter sido entendido que os factos não serão merecedores de tutela penal.
Os juízes devem ser os primeiros a dar o exemplo de urbanidade, de respeito pela lei e pela forma de se comportarem em sociedade.
Este tipo de situações não dignifica a magistratura e retira impacto a reacções de desagravo quando são criticados.
Até porque, sendo um órgão do poder - não electivo - devem estar sujeitos à crítica como os outros órgãos do poder que são submetidos ao sufrágio dos cidadãos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Os princípios e a política

O líder do PSD/Algarve anunciou que a Comissão Política do PSD/Algarve aprovou a candidatura de Gonçalo Amaral à presidência da Câmara de Olhão, com uma maioria expressiva dos votos.
A Comissão Coordenadora Autárquica do PSD já se pronunciou e decidiu propor à Comissão Política Nacional do PSD que recusasse a candidatura de Gonçalo Amaral, ex-inspector da Polícia Judiciária, à câmara de Olhão. Na base do pedido estão os critérios do partido que impedem que um militante que há pouco tempo tenha tido um cargo nas forças de segurança se candidate a um cargo político.
Em comunicado, Mendes Bota frisa que o ex-inspector da Judiciária não é um candidato "contra-natura", nem "importado à última hora" e que possui um currículo "valioso" e "brilhante", com 35 anos ao serviço da Administração Pública.
A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, já se tinha manifestado, na passada semana, contra a candidatura de Gonçalo Amaral, argumentando que os critérios definidos pela direcção social-democrata excluíam a possibilidade de o ex-inspector ser candidato pelo partido a Olhão.
Está criada a clivagem entre o PSD/Algarve e a Comissão Politica Nacional do PSD que pode causar danos na estratégia social-democrata para uma dinâmica de vitória no próximo ciclo eleitoral.
Até porque, depois desta manifestação de força, outras, possivelmente, se seguirão, nem que seja para testar a capacidade de resistência da Presidente da Comissão Política Nacional.



segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Erro nos pressupostos

O mais recente cartaz do PCP é deveras curioso. A frase é simples: “Sim, é possível”, mas profundamente contraditória nos seus pressupostos.
Em primeiro lugar, o PCP quer dar a ideia que pode chegar ao Governo, sabendo que tal dificilmente acontecerá.
Em segundo lugar, o PCP copia a frase de campanha de Obama, esquecendo dois factos: o novo Presidente dos Estados Unidos não é de esquerda e a concepção da democracia norte-americana não se transpõe para a Europa e muito menos se revê nos partidos comunistas.

domingo, 18 de janeiro de 2009

A Indecisão, por vezes...

A indecisão, por vezes, é má conselheira e impeditiva de se alcançar um objectivo ou realizar um projecto.
Coincidência, ou talvez não, Pedro Passos Coelho desmutiplicou-se, este fim-de-semana, em entrevistas a diversos órgãos de comunicação social.
Possivelmente as entrevistas já estariam programadas, mas a verdade é que surgiram após a divulgação de uma sondagem negativa para o PSD e de uma entrevista de Manuela Ferreira Leite à RTP que, por muito que se pretenda branquear a realidade, não foi motivadora para desencadear o movimento de recuperação dos social-democratas, nem potenciadora de uma onda de mudança quanto à vontade dos portugueses em mudarem de governo.
Pedro Passos Coelho quer, ambiciona e acredita que vai liderar o PSD. Só falta saber que PSD. Porque a indecisão tem destas coisas: pode ser fatal.

sábado, 17 de janeiro de 2009

A emigração, de novo

A emigração é, cada vez mais, o caminho de muitos jovens que não se revêem no nosso País e que partem com a esperança de se realizar profissionalmente.
Os nossos melhores quadros vão partindo, porque Portugal nada lhes oferece.
Trinta e cinco anos depois de Abril, Portugal voltou a ser um país exportador de mão-de-obra. Mais qualificada, é certo, mas sem presente e sem futuro.



O barco vai de saída
Adeus ó cais de alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P´ra lá da loucura
P´ra lá do equador
(Fausto)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Esperar para Ver

O presidente francês Nicolas Sarkozy pediu aos dirigentes dos bancos franceses que suspendessem este ano "a parte variável" das respectivas remunerações calculada sobre os resultados de 2008, em contrapartida do apoio financeiro que foi dado pelo Estado.
Cavaco Silva já tinha alertado para as elevadas remunerações dos gestores das empresas privadas, que seriam escandalosas no contexto da economia nacional. Muitos consideraram esta posição como de interferência na economia privada, inadmissível por parte do Estado.
Hoje, face ao descontrolo total da situação financeira e com a necessidade de repensar o sistema capitalista ou de economia de mercado, estas questões são pertinentes, num quadro de regulação do Estado, por forma a evitar situações como aquela a que se chegou.
Esperamos que em breve o governo português dê o exemplo e ordene a redução dos benefícios dos administradores das instituições financeiras do Estado e aconselhe os bancos a quem concedeu o aval a fazer o mesmo quanto às remunerações dos seus administradores.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fidel Castro

Tudo indica que Fidel Castro já se juntou a Che Guevara onde quer que esse encontro se realize.
Se este facto ocorresse num país democrático e “decadente”, segundo Hugo Chavez, a notícia já seria pública.
Na democracia cubana, a censura impede que se saiba que “El Comandante” já não pertence ao número dos vivos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Para onde vamos?

Ontem, um homem, desesperado, cortou o dedo indicador da mão esquerda, no gabinete de um juiz do Tribunal da Figueira da Foz, alegadamente em protesto por uma decisão judicial desfavorável.
Os relatos da comunicação social dizem, secamente: «Pegou no cutelo, cortou o dedo e saiu para o átrio, aos berros a protestar».
O que leva um homem a fazer isto? A justiça errou ou ele foi vítima da justiça? A que estado chegou a nossa sociedade, em que estes sinais de descontrolo emocional se vão multiplicando?

A Advertência

O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo advertiu as jovens portuguesas para o "monte de sarilhos" de se casarem com muçulmanos. O Cardeal Patriarca de Lisboa é homem inteligente, com elevado sentido diplomático, pelo que algo deve ter acontecido para ter assumido esta posição politicamente incorrecta.

Como não acredito em distracções, nem em actos precipitados, e não foi, certamente, um acto falhado, poderemos estar perante uma nova fase no relacionamento ecuménico.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Adivinha

"Qual será a dimensão do castigo que os eleitores aplicarão ao PS nas legislativas deste ano", interroga-se Pedro Magalhães, hoje, no Público.
Esta é uma daquelas perguntas em cuja resposta nem os economistas mais reputados, que "apostaram" no petróleo a 200 dólares no final de 2008, conseguirão acertar.
Eu, também não, porque não tenho dotes adivinhatórios, mas quase que me arriscaria a dizer que o tamanho da derrota será proporcional ao da subida da abstenção.

Neve em Beja

Foto Zé Espinho

domingo, 11 de janeiro de 2009

A Entrevista do Procurador-Geral da República

O PGR afirmou que os magistrados têm receio de decretar a prisão preventiva, para não virem a ser responsabilizados em sede de pedido de indemnização cível e tal facto deriva das alterações ao Código Penal, isto se entendi as suas afirmações ou se elas não vieram truncadas na comunicação social.
Esta afirmação é perigosa por três ordens de razão: coloca em causa a capacidade dos magistrados em decidir a aplicação da medida coerciva mais penalizante, quando ela se justifica e se encontra prevista na lei; admite que os magistrados têm medo e patenteia, implicitamente, que a prisão preventiva era aplicada indiscriminadamente, sem rigor e ao sabor da conveniências ou das necessidades da investigação, leia-se do Ministério Público.
Das incertezas quanto à prisão preventiva, o PGR revela, contrariamente, aos investigadores ingleses, certezas quanto ao processo Freeport. Ainda bem, porque assim ficamos todos bem mais tranquilos.
Já agora também poderia questionar-se do porquê de tantas fugas de informação durante a investigação de alguns processos e da razão de ciência de os procuradores, mesmo quando a prova é débil, acusarem ou sustentarem a acusação em audiência de julgamento. Será por motivos estatísticos?

sábado, 10 de janeiro de 2009

Manipulação Genética

Nasceu esta semana o primeiro bebé do mundo que não poderá ter cancro da mama, ou dos ovários, durante a sua vida adulta. Numa família em que quase todas as mulheres tiveram a doença, os médicos implantaram na mãe desta menina um embrião testado já para a doença.
Este caso vem recolocar na agenda a discussão quanto às vantagens da manipulação genética e até onde é que o homem deve ou pode ir neste campo.
Qualquer debate sobre este tema não pode assentar em concepções redutoras ou fundamentalistas, mas sim ser uma discussão de espírito aberto, numa perspectiva desenvolvimentista da sociedade. Não da sociedade perfeita sem doenças, mas de uma sociedade com uma melhor qualidade de vida. As questões teológicas não podem condicionar esta evolução da ciência, nem a ciência pode condicionar a vontade do homem.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Para memória futura

A juíza Mariana Caetano emitiu hoje um despacho com duas dezenas e meia de páginas, concedendo a guarda definitiva de Esmeralda Porto a Baltazar Nunes, com quem a menor estava a viver desde o início da das férias do Natal.
Um dia alguém vai querer lembrar-se do nome de quem decidiu e os fundamentos da decisão. Porque a memória é essencial para a nossa aprendizagem colectiva e neste caso alguém se enganou ou anda enganado.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sem hipocrisia, sem falso moralismo

Inês Serra Lopes foi condenada pelo Tribunal da Relação de Lisboa, em um ano de prisão, sem pena suspensa, ou em trabalho comunitário.
Sem hipocrisia e sem falso moralismo, devo dizer que foi bem e mal condenada. Ou seja, foi bem condenada, porque o seu comportamento merece uma forte sanção, mas foi mal condenada, porque a essência da questão esteve na “ajuda” que procurou dar aos advogados de Carlos Cruz, um dos quais é seu pai.
Inês Serra Lopes é jurista de formação e filha de uma ilustre Bastonária da Ordem dos Advogados.
Este o seu pecado e a verdadeira dimensão dos actos praticados, que deveriam merecer a censura do Tribunal.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Próximo Confronto

Pedro Santana Lopes tinha razão quando alertou para a intenção de José Sócrates antecipar a data das eleições legislativas. É evidente que o Governo tem todo o interesse em antecipar as eleições antes que o desemprego e a conflitualidade social aumentem.
A crise dos Açores foi um ensaio para avaliar até onde é que o Presidente da República iria e até onde é que o Governo poderia ir.
O pano de fundo é o calendário eleitoral e esse é que será o grande momento do confronto entre a Presidência da República e o Governo.
Se Cavaco Silva ceder a José Sócrates pode significar que pretende contar com o apoio socialista à sua reeleição. Se não ceder e optar pela realização dos três actos eleitorais, em datas não coincidentes, pode significar que, ou não pretende recandidatar-se, ou que está tão à vontade que acredita que pode ganhar contra o Partido Socialista.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A TVI versus José Sócrates

A minha curiosidade está esclarecida, a entrevista do primeiro-ministro José Sócrates, transmitida pela SIC, foi vista por cerca de 2,7 milhões de telespectadores, mas não passou do quinto lugar entre os programas mais vistos do dia.
A entrevista - designada como "Portugal em 2009" - obteve uma audiência média de 13%, segundo dados hoje divulgados pela empresa MediaMonitor, da Marktest.
As respostas de José Sócrates, entrevistado durante quase uma hora por José Gomes Ferreira (SIC) e Ricardo Costa (Expresso), conquistaram um "share" (número de telespectadores que sintonizaram, pelo menos uma vez, o canal durante o tempo em que estiveram a ver televisão) de 28,9%, valor que corresponde a cerca de 2,7 milhões de portugueses.
A entrevista não conseguiu, no entanto, bater o habitual interesse dos portugueses pelas novelas da TVI, tendo a "Flor do Mar" sido o programa mais visto do dia, seguida pelo "Feitiço de Amor".
Os primeiros lugares da lista de preferências dos telespectadores foram ainda preenchidos pelo "Telejornal" da RTP e pelo "Jornal da Noite" da SIC.
As novelas, mais uma vez, mereceram o interesse dos portugueses, em detrimento da entrevista do Primeiro-Ministro.
Opções que deverão ser levadas em conta em futuras mensagens políticas e acções de propaganda eleitoral.

Véspera de Dia de Reis

Ontem, véspera de dia de Reis, o primeiro-ministro deu uma entrevista à SIC e desde já confesso que, apesar de a ter ouvido atentamente, dei maior relevo ao debate subsequente na SIC Notícias, porque é a seguir às entrevistas que se define se a mesma correu bem ou correu mal.
Não somos nós que definimos o conceito de boa ou má entrevista, mas são os comentadores que determinam o vencedor.
Sei de pessoas que só vêem os comentários das entrevistas porque através deles ficam com a ideia global da coisa.
E, como seria inevitável, tivemos “três reis magos” a comentar a entrevista, num debate que contou com a presença de S. José e que foi liderado pela Virgem Maria. O quadro completo para a véspera do dia de Reis.
Um dos reis magos foi assertivo e extremamente racional na análise da entrevista.
Outro dos reis magos deixou-se levar pela emoção e arrasou o entrevistado, sem dó nem piedade.
O outro rei mago fez o papel de futuro ex-director de um semanário relevando as questões que um dos entrevistadores colocou a José Sócrates, obnubilando a presença daquele que o irá substituir na direcção do jornal.
S. José fez o tradicional papel de defensor do “menino” e acolheu, como boas, grande parte das propostas e das explicações apresentadas pelo primeiro-ministro.
Por curiosidade, estou ansioso por saber qual foi o “share” da entrevista e qual foi o “share” do debate.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Pare, escute e pense

Sampaio Melo deu uma interessante entrevista à SIC Notícias, na qual explicou os motivos que o levaram a abandonar a direcção do Gabinete de Estudos do PSD.
Os militantes social-democratas deveriam pedir uma gravação da entrevista para a ouvir com atenção. E depois reflectirem.
Já agora, os assessores do Presidente da República também deveriam ouvir a entrevista e meditar.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Um imenso "offshore"!

Li e reli a notícia que dava conta que o presidente do Partido da Nova Democracia (PND), Manuel Monteiro, teria defendido, num encontro com o arcebispo de Braga, que o distrito bracarense fosse considerado uma zona franca em termos fiscais, como a Madeira.
Para além da demagogia e da irresponsabilidade, é lamentável que esta proposta tenha sido apresentada a um alto dignitário da Igreja, sem que este reagisse, ainda para mais num tempo em que se questiona a existência de paraísos fiscais por esse Mundo fora.
A não ser que Manuel Monteiro queira transformar este “imenso Portugal” como canta Chico Buarque, num imenso “offshore”.
Compreendo que Manuel Monteiro queira ser eleito deputado por Braga, mas esta proposta ultrapassa todos os limites. É uma vergonha, que não dignifica quem a apresenta, nem quem a recebe, sem a questionar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A Mensagem

Cavaco Silva afirmou que 2009 vai ser o ano de todos os perigos e alertou para os vendedores de ilusões.
A mensagem de ano novo teve por objectivo demarcar o Presidente da República dos erros da governação quanto aos grandes investimentos públicos, retomando uma linha de força que já utilizara durante a campanha eleitoral para se opor à construção do novo aeroporto de Lisboa: a relação custo/benefício.
Esta foi a principal linha de força da mensagem, que nem o partido do governo, nem a oposição quiseram ouvir.
Num tempo de incerteza quais as reais vantagens para o nosso País da construção do TGV ou do novo aeroporto de Lisboa, em Alcochete?
Será um investimento produtivo a médio e longo prazo? Ou apenas visará, na lógica keyneseana, combater pontualmente o desemprego com o recurso a grandes obras públicas?
Neste tempo de mudança dos paradigmas financeiros e das políticas de investimento é importante determinar se o pensamento keyneseano ainda pode ser levado à letra ou se terá de ser adaptado a uma outra realidade derivada de uma concepção que tenha em consideração o benefício dos investimentos e o seu impacto a médio e longo prazo nas sociedades.
Os governos de todo o Mundo estão entrincheirados entre a recessão e a opção para fugir à implosão social derivada do desemprego.
Têm dois caminhos: falar verdade, aguentar a crise e apostar no futuro, ou inventar medidas paliativas e daqui a dois ou três anos verem estoirar-lhes nas mãos uma agitação social de consequências inimagináveis.