sábado, 11 de dezembro de 2010

Cavaco Silva, a pobreza, a vergonha e o conhecimento da realidade.

O Presidente da República disse que os portugueses têm de se sentir "envergonhados" por existirem em Portugal pessoas com fome, um "flagelo" que se tem propagado pelos mais desfavorecidos de forma "envergonhada e silenciosa".
Disse e disse bem, ainda para mais porque sabe do que fala, uma vez que nos trinta e seis anos de democracia - descontando o período de desvario revolucionário, serão 34 - exerceu funções de poder durante cerca de dezasseis anos, sendo onze de poder executivo e cinco como Presidente da República. Ou seja, durante metade da vida da nossa democracia teve uma palavra a dizer quanto à pobreza. Por isso, - e porque a pobreza sempre existiu e as condições de desenvolvimento nunca foram, na verdade, criadas e o "pequeno e simbólico desenvolvimento" do nosso País apenas resultou de uma política de betão e de alcatrão -, o Presidente da República conhece os sintomas de pobreza. E talvez por esse motivo fale deles. E acredito que, tal como os outros portugueses, também se sinta envergonhado. Até porque, certamente, não esquece os panos negros e a fome do Vale da Ave, no tempo dos seus governos.