domingo, 16 de janeiro de 2011

Um político profissional pode ser descarado, mas descaramento tem limites

Cavaco Silva tem sido levado ao colo por uma comunicação social que o próprio classifica de "macia". O que, em relação a ele, vá-se lá saber porquê e comparando com o tempo em que ele foi primeiro-ministro é, no minímo, estranho.
Mas esta é uma evidência, clara, que resulta da análise aos trabalhos jornalísticos e ao comentário político: para todos eles, Cavaco Silva nem precisaria de fazer campanha, porque a eleição era mais do que certa, consensual e desejada pelos meios da comunicação social.
De repente, e quando se esperava que o candidato fizesse uma campanha serena, tratando de questões de Estado, impulsionando o País de forma positiva para o combate à crise económica e social, confrontamo-nos com uma campanha agressiva, violenta, radicalizada e de contraponto ao governo, como se Cavaco Silva estivesse a disputar umas eleições diferentes.
A realidade é que, como o próprio declarou à exaustão, os poderes do Presidente são limitados constitucionalmente e a separação de poderes não lhe confere acção ao nível executivo. Para que isso acontecesse seria necessário mudar o regime, coisa que o próprio não propõe, nem está na agenda política.
Mas, mais estranho ainda, é a acusação que fez à comunicação social, "macia", de não mostrar o "mar de gente" que o acompanha por esse País fora.
A acusação confirma os sinais de nevorsismo que se apoderaram do candidato, que vê a vitória por 60% a 70% descer para a barreira dos 50% e, eventualmente, para uma segunda volta.
Esta é a grande preocupação de Cavaco Silva que, num quadro de crise política, pretendia ver reforçada a sua legitimidade, com o voto mais que expressivo dos portugueses, para intervir, activamente, nas questões da governação.