segunda-feira, 4 de maio de 2009

"Primeiro estranha-se e depois entranha-se"

Fernando Pessoa criou um magnífico slogan para a publicidade à Coca-Cola, a bebida proibida pelo regime de Salazar, numa das manifestações anti-americanas secundárias e redutoras.
A memória deste slogan ocorreu-me face à insistência de diversas “personalidades” quanto à necessidade de constituição do Bloco Central, como forma mágica para resolver a “grave crise económica” do país e a vantagem da estabilidade política, traduzida numa maioria, centrada entre os dois maiores partidos.
O regresso do “centrão”, figura esconjurada por muitos daqueles que agora o recebem de braços abertos, configura-se algo de duvidoso, para não dizer de profundamente aberrante.
Porque não acredito na boa fé de quem defende esta solução, que é manifestamente “coxa” e contrária ao natural desenvolvimento da luta e do confronto partidário, sendo fortemente redutora e potenciadora de radicalismos, à esquerda e à direita, estou convencido que existe um “gato escondido com rabo de fora”.
Nestas circunstâncias importa determinar quem tira vantagens de tanta unanimidade em torno do bloco central e da ingovernabilidade do país, se não houver uma maioria absoluta e caso se confirme o crescimento da votação à esquerda, em concreto no Bloco de Esquerda.
A conclusão só pode ser uma: o partido do governo é o único, neste momento e no actual quadro, a poder retirar vantagens desta tese, ou seja, a pressão sobre a necessidade do Bloco Central a par do perigo do crescimento do Bloco de Esquerda pode levar os eleitores moderados a dar a maioria absoluta a José Sócrates.
Os defensores da ideia – do Bloco Central – insistem maciçamente nela, porque sabem que “primeiro estranha-se e depois entranha-se” e apostam nesta pressão para conseguir os seus objectivos de provocar uma reacção negativa, de rejeição, que leve à inversão das sondagens e dê a maioria absoluta ao PS nas legislativas.
Tudo tão “clean”, tão simples, direi mesmo simplório, que me espanta que alguns dos mais conceituados comentadores políticos do nosso país reivindiquem com tanto empenho a sua autoria.