sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os "Deolinda" não são parvos.

Os “Deolinda” não são parvos e, como grupo suburbano que são, compreenderam que a situação económica que o País atravessa, o desemprego entre os jovens, principalmente os jovens licenciados, seria um importante trunfo para lançarem uma canção de “protesto”, que lhe renderia muito e que os poderia projectar para outro patamar diferente, ou seja, de um grupo que cantava fado marginal, para um grupo mais “sério”.
No debate que se instalou em Portugal, ampliado pelo FB, importa destacar duas posições: a de Mário Crespo – de uma imbecilidade sem limites ao comparar os “Deolinda” a Zeca Afonso – e a de Pacheco Pereira que desmontou a questão do desemprego dos jovens licenciados, com uma ideia simples: há cursos a mais, faculdades a mais e a grande maioria desses cursos não possui saídas profissionais. A que acresce o facto de o Estado ou as empresas não serem obrigadas a empregar todos os licenciados.
Chegados aqui, importa ir mais longe e isso significa questionar quem autorizou a criação de faculdades, sem qualidade científica, a criação de cursos sem saídas profissionais e quem destruiu o ensino profissional, que era uma das áreas mais importantes para a formação de jovens e uma quase garantia de emprego.
A “revolução do Jasmim”, que está a transformar África e a lançar o caos nos países árabes, vai ser ensaiada em Portugal, com a manifestação de 12 de Março – se ocorrer e não for um fiasco – e com a famosa manifestação de “todos os políticos para a rua” que, em si, é uma manifestação política, porque não existem formas assépticas de gerir uma sociedade.
Portugal atravessa um dos momentos mais complicados dos últimos trinta anos, com dirigentes políticos sem muita credibilidade, mas com jovens licenciados mal preparados e sem capacidade para fazer o que quer que seja, como lembrou Ricardo Costa, e que também não possuem conhecimentos ou ideias para serem alternativa na governação do País.
Esta é uma realidade nua e crua, muitos dos jovens licenciados não deveriam ser licenciados, porque os seus cursos não servem para nada e eles próprios nada sabem fazer.
Quando houver coragem para entender esta questão e discuti-la, abertamente, talvez se ultrapassem alguns dos problemas que temos e que são fundamentais para uma alteração estruturante do nosso País.