sexta-feira, 7 de maio de 2010

Os Deuses devem estar Loucos!

Lembram-se do filme "Os Deuses devem estar Loucos"?
O filme tem início no deserto do Kalahari, no Botswana, junto à Africa do Sul, numa pacata e semi-desértica paisagem, coberta por uma vegetação arbórea esparsa, mostrando uma cena da vida quotidiana de um grupo de bosquímanos, que decorre calmamente.
Sobrevoando esse local, uma avioneta, de onde um dos seus tripulantes lança, inadvertidamente, uma garrafa de Coca Cola - daquelas de vidro, bojudas no meio e estreitas no gargalo e com as letras da marca bem impressas - símbolo universal da moderna civilização de consumo deste final de século.
Por perto, brinca um grupo de crianças. Com a curiosidade que lhes é característica, deslocam-se, rapidamente, ao local, a fim de observarem e apanharem o estranho objecto. De início, a garrafa faz as delícias das crianças e dos adultos: apreciam-na, viram-na, reviram-na, inventam-lhe múltiplas e variadas utilidades para o seu uso, e divertem-se com a sua presença. No entanto, passado algum tempo, esta simples e inofensiva garrafa de Coca-Cola começa a ser disputada e a tornar-se alvo de sérias querelas no seio do grupo, despertando sentimentos de posse e invejas.
É, nesta altura, que entra em acção o chefe da tribo, homem sábio e diligente, movido por um genuíno interesse em resolver a discórdia criada pela introdução desse objecto estranho, meio natural/meio artificial, na vida sossegada desse grupo. Porque motivo teria sido este objecto lançado dos "céus"? Porventura, teria sido um acto não intencionado, um descuido por parte dos "deuses"! Só assim seria possível entender este facto inesperado. Haveria, pois, que tomar uma resolução que pusesse termo às discórdias e conflitos suscitados por esse mal-avindo objecto ou "Coisa má", como o designavam.
Num rasgo de intuição, o chefe decide ir, pessoalmente, entregar o objecto da discórdia aos "deuses" supremos - de onde com toda a certeza viera, não se sabe porquê, nem como - mesmo que para isso tenha que atravessar o deserto e arriscar a própria vida. Está, pois, tomada a decisão e criado o argumento que irá sustentar a acção do filme.
O filme narra, então, a epopeia dessa longa e conturbada viagem do chefe bosquímano, repleta de encontros com novas e inesperadas situações, que este procura entender à sua maneira, com os seus próprios "olhos culturais".
Neste momento, temos a sensação que o "Chefe", qualquer que ele seja, levou com a garrafa de coca-cola na cabeça e vai a caminho da terra de ninguém à procura de uma solução.
Pelo meio, um conjunto de "crianças" envolvem-se em disputas de poder, para tocar na garrafa, sem entenderem o sentido da vida, no conceito dos Monty Phyton, mas com a perspectiva redutora de tocar o poder nem que seja por um segundo.