segunda-feira, 6 de junho de 2011

As evidências, as decorrências e o futuro.

Passos Coelho e o PSD ganharam as eleições e a maioria de direita com o CDS é possível. José Sócrates perdeu as eleições e demitiu-se. Francisco Louçã perdeu as eleições e persiste em ficar, porque se partir perde o palco mediático de que tanto gosta. O PCP manteve-se, contra ventos e marés e está sólido. Não cresce muito, mas manteve-se e ainda ganhou um deputado. Estas são as evidências de um resultado eleitoral inequívoco. Outra evidência é a necessidade de, com verdade e transparência, se limparem os cadernos eleitorais porque a existência de cerca de um milhão de eleitores a mais distorce a distribuição de deputados pelos círculos eleitorais e o valor percentual da abstenção.
Agora passemos ao que não é evidente, e a primeira começa logo por ser a afirmação de Passos Coelho de que o partido de Sá Carneiro está vivo. Mentira. Sá Carneiro não se reveria neste partido. E talvez fosse tempo de se deixar de falar no fundador do PPD por dois motivos: primeiro, porque ele não tem nada a ver com aquilo em que o PPD/PSD se transformou e segundo, porque o Mundo está de tal maneira diferente que o seu pensamento talvez fosse outro. Por isso especular com o nome de Sá Carneiro é perfeitamente dispensável.
A outra decorrência destas eleições é o começo do desmembramento do Bloco de Esquerda, que irá ter o mesmo percurso do PRP, caso Francisco Louça se mantenha na liderança ou o Bloco não evolua no mesmo sentido que evoluíram os “Verdes” na Alemanha.
A terceira decorrência diz respeito ao Partido Socialista que perdeu as eleições, com uma derrota bem expressiva e que impõe uma profunda reflexão interna.
Em primeiro lugar, contrariamente ao PSD, os socialistas não possuem uma forte base autárquica que empurre o partido para o poder. O PS foi, quase sempre, um partido de poder central, com alguma expressão autárquica, principalmente nas áreas metropolitanas. Em segundo lugar, o PS centralizou-se, deixando espaço na esquerda para que o PCP aguentasse o eleitorado e o Bloco de Esquerda crescesse. Talvez seja uma boa ideia repensar estas duas vertentes. Porque se não o fizer arrisca-se a um esvaziamento face à consolidação do PSD e ao crescimento do CDS.
O PS só terá futuro afirmando-se como partido de esquerda, num quadro complexo de dificuldades financeiras em que a imaginação e a criatividade serão as armas para defender os princípios do Estado Social, sem grandes recursos financeiros. E nesta afirmação, os socialistas devem pensar o que é ser de esquerda, hoje, em plena crise económica do sistema capitalista. Ou seja, têm de assumir que ser de esquerda não é saber gerir melhor a crise, mas encontrar outras soluções para a crise.
Os próximos meses, e anos, vão ser muito duros para Portugal e para a Europa e o modelo europeu poderá fracassar, empurrando o espaço europeu para a derrocada ou para um conflito militar. O nosso futuro colectivo pode estar em risco se os governos europeus e os “governos financeiros” não se entenderem agravando a crise económica e o desemprego.