terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Hipocrisia

O escândalo Madoff é um dos múltiplos escândalos que abalaram o sistema financeiro e a economia virtual que se construiu em seu redor.
A forma de actuar deste especulador é idêntica à dos respeitáveis banqueiros da nossa e de outras praças, com o conluio dos governos e a mão invisível dos especuladores do costume e dos especuladores das economias emergentes, em que a liquidez abunda e não sabem o que fazer dela.
Em nenhuma destas actividades se encontra qualquer contributo para o desenvolvimento de uma economia sustentável, apesar dessa “bolha” alimentar o consumo e, eventualmente, um aumento pontual da produção.
Mas é tudo artificial, porque mais dia, menos dia a ruptura seria inevitável, como se comprovou, à pequena escala portuguesa, pela D. Branca que, comparativamente com estes indivíduos, era uma pessoa séria.
Hipocritamente, esquecemos os decisores políticos, que fingiram que não viam, ou então são mesmo muito incompetentes e os próprios investidores que foram tão gulosos que compraram “galinha gorda por pouco dinheiro” como diz o povo português.
Os investidores também não estão inocentes, porque quiseram ganhar muito em pouco tempo.
A crise deveria servir para tirar algumas lições, mas parece que ninguém quer aprender. Os governos continuam desorientados e sem capacidade de resposta à crise social que vai explodir, os especuladores continuam a querer ganhar dinheiro à custa da crise, os analistas fingem que percebem da coisa e alimentam a depressão, porque cada um quer ser mais assertivo do que os outros.
Na verdade, e sem pretender ser pessimista, a Europa e os Estados Unidos arriscam uma implosão social que ultrapassa em muito a recessão, uma vez que colocará em crise a democracia e as liberdades.
De resto, já em Fevereiro deste ano a SEDES alertava que "sente-se em Portugal "um mal-estar difuso", que "alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional". Este mal-estar e a "degradação da confiança, a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado, têm como consequência inevitável o seu bloqueamento". E se essa espiral descendente continuar, "emergirá, mais cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever".
A ver vamos.