segunda-feira, 4 de julho de 2011

Eu exerço o meu direito à indignação contra o silêncio que esconde as trapalhadas de um executivo que ao final de uma semana está sem rumo.

Confesso que estou a ficar sem palavras para expressar a minha opinião sobre a actual situação do País e o novo governo – no qual não acredito -, uma vez que, segundo a comunicação social, em estado de paixão com o executivo, num paraíso cor-de-rosa (salvo seja, claro) Portugal vai crescer, desenvolver-se e criar riqueza, como nunca se viu em tempo algum, nem com Cavaco Silva e a política de betão apoiada pelos Fundos Comunitários. É verdade que, como explicou Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, o desemprego pode chegar aos 15%, fruto da recessão, para a qual vai contribuir o “assalto ao bolso dos contribuintes” no subsídio de Natal, uma vez que vai ocorrer uma redução do poder de compra nessa época festiva – período que é sempre muito esperado pelo comércio para poder realizar vendas – e o agravamento do IVA na restauração irá afastar os turistas de Portugal. Ou seja, mais umas centenas de empresas a fechar as portas e mais desemprego, mais prestações sociais, com o consequente agravamento da despesa do Estado. Mas tudo bem, porque os dias “gloriosos” estão a chegar depois desta tormenta. E, se o assalto ao subsídio de Natal não chegar, certamente que o subsídio de férias em 2012 também não escapará. O que poderá ter vantagens, porque assim os portugueses não irão de férias, ficam em casa, não gastam dinheiro e mais umas empresas irão à falência, o desemprego voltará a agravar-se e as prestações sociais a aumentarem. Mas tudo bem, porque o executivo está atento e a reduzir a despesa intermédia do Estado. Ainda não se sabe bem onde, nem qual o seu impacto, nem se vai levar a mais desemprego, mas isso são pequenos detalhes sem importância. De acordo com uma sondagem do Expresso - grupo económico que ainda não perdeu a esperança de impedir a privatização da RTP-, os seus leitores concordam em serem assaltados e esperam mais austeridade. Como se vê, os portugueses, afinal, querem austeridade, redução do poder de compra e recessão. A velha máxima salazarista de “uma casa portuguesa, pão e vinho em cima da mesa”.
Ainda segundo a nossa comunicação social, afinal existe desperdício na saúde, uma vez que todos os dias há utentes a queixarem-se do dinheiro que gastam na farmácia e com razão: em 2010, os portugueses gastaram 3,23 mil milhões de euros nas farmácias nacionais, de acordo com a Análise do Instituto da Farmácia e do Medicamento. Um valor que representa uma despesa média de 8,87 milhões de euros por dia, com 672 mil embalagens de fármacos a sair directamente das gavetas das farmácias para casa dos utentes”.
Ou seja, é uma vergonha, um escândalo, que todos sabiam, mas sempre que se pretendia colocar fim ao mesmo, lá vinham as corporações e a comunicação social gritar contra essas medidas.
Afinal existe um consumo exagerado de medicamentos e já se sabe que, com este Ministro da Saúde, as coisas vão entrar nos eixos, ou seja, o Estado vai pagar menos e os doentes, se quiserem medicamentos, vão pagar mais ou, em alternativa, fazem seguros de saúde para reduzir os custos com esses gastos.

No meio de tudo isto algumas escolas deveriam fechar este mês, no âmbito da reorganização da rede escolar, aprovada pelo anterior executivo. Porém, a equipa de Nuno Crato decidiu não avançar com o seu encerramento sem avaliar primeiro a proposta que está em cima da mesa e o seu impacto. Mesmo assim a tutela pretende dar seguimento à "política de racionalização da rede escolar, que implicará necessariamente o encerramento de escolas", conforme referiu o gabinete do ministro.
Ou seja, as escolas não fecham agora, mas vão fechar, e o governo só não avança com esse encerramento porque cede à força das corporações e não quer confrontos com a FENPROF e com a Associação de Municípios. Como se sabe, de cedência em cedência até à violação do pacto celebrado com a "troika" vai um pequeno passo, que pode sempre ser suprido com o aumento da carga fiscal.

Por último, os comentadores políticos do regime descobriram que a crise é internacional e que sem o “arranque” da Europa, o nosso País terá muitas dificuldades em recuperar. É a velha máxima de que “o que era mentira ontem é verdade hoje”, ao serviço de um novo poder e dos politólogos que não querem admitir o erro das suas análises, fruto de uma arrogância intelectual desprezível.

Como a esperança é a última a morrer, dizem, continuarei a exercer o meu direito de crítica, de indignação, de oposição a um governo que nos irá levar ao desastre total. E, esclareço, para que não haja mal entendidos, que com esta posição não estou a defender os erros cometidos pelo executivo de José Sócrates, nem pelos anteriores executivos, sejam do PS ou do PSD.