sexta-feira, 11 de março de 2011

Venha de lá um pouco de coragem.

O governo não informou o Presidente da República do acordo quanto às novas medidas de contenção financeira - vulgo austeridade - que levou a Bruxelas. O primeiro-ministro limitou-se a telefonar a Passos Coelho para lhe dar conhecimento deste PEC 4. Bruxelas rejubilou com as medidas propostas, os mercados nem por isso e Passos Coelho veio dizer que o PSD não as aceita.
Nesta quadratura do círculo só há três soluções: ou o Presidente da República exerce os seus poderes, deixando de lado o tacticismo da sua acção, ou o PSD apresenta uma moção de censura que seja viabilizada pelos restantes partidos da oposição e derruba o governo ou o governo vem dizer que não possui condições para governar.
Agora nada pode continuar como antes, porque, mesmo que se queira, não podemos manter este fingimento dolorosamente autofágico. Como escreveu Pessoa "O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente".
E os portugueses já não fingem a dor que sentem, porque ela é tão real que se entranha e esventra uma sociedade em queda livre.