sábado, 24 de janeiro de 2009

Por uma questão de Estado

José Sócrates encontra-se numa encruzilhada de consequências imprevisíveis e que podem condicionar o seu futuro político
Na véspera de um ciclo eleitoral que irá definir os próximos quatro anos de poder em Portugal e, em consequência desses resultados, a recandidatura de Cavaco Silva à Presidência da República, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro vê-se confrontado com a suspeita de envolvimento no favorecimento do grupo económico inglês que construiu o Freeport.
Por uma questão de princípio não faço juízos de valor sobre ninguém e acredito, contrariamente a muitos dos fariseus que agora dizem não querer falar da situação que envolve o primeiro-ministro, na inocência de qualquer cidadão, até à condenação com trânsito em julgado.
Por este motivo, a análise a fazer é merante política e tendo em consideração as perspectivas da evolução do caso.
Em primeiro lugar é fundamental que a Procuradoria-Geral da República, em tempo útil, ou seja até ao Congresso do Partido Socialista, venha esclarecer os portugueses se José Sócrates é suspeito da prática de qualquer acto passível de sanção penal e, nesse caso, constitui-lo arguido ou se nada tem a ver com isto e, deste modo, colocar um ponto final nesta suspeita.
Se nada tiver a ver com o caso Freeport, a questão fica resolvida e o ataque que sofreu pode beneficiá-lo junto do eleitorado.
Se os indícios existentes nos autos apontarem para a constituição de arguido, a Procuradoria-Geral da República não pode esperar pela véspera das eleições para clarificar a situação, sob o perigo de se pensar que existe uma conexão entre a acção da justiça e os actos eleitorais.
A importância do caso, que faz as primeiras páginas dos jornais e das televisões, resulta das funções desempenhadas por José Sócrates.
Em nome do Estado e da democracia, Portugal, neste tempo de profunda crise económica e social, não pode ter um primeiro-ministro sob suspeita de actos de corrupção.
É tempo de se entender que os jogos de poder resultam num determinado contexto, mas que podem ser fatais para a democracia.