segunda-feira, 9 de novembro de 2009

As condições para a queda do governo e a questão da liderança do PSD

Um comentador político disse que o processo "Face Oculta" poderia ser o Watergate do Partido Socialista.
Para que isto sucedesse, seria necessário que o envolvimento neste processo, a ser verdade tudo o que consta dos indícios, atingisse a cúpula do Partido Socialista, membros do actual governo ou o próprio Primeiro-Ministro.
Se a investigação atingir, apenas, as figuras de que se fala, o Partido Socialista poderá, com alguma facilidade, encontrar forma de se demarcar do problema.
Se tal não acontecer, e a investigação chegar ao núcleo duro do poder socialista, a credibilidade das instituições ficará, irremediavelmente, afectada, e isso colocará em causa a continuidade do governo.
Neste quadro, e apenas neste quadro, é possível ao PSD aspirar voltar ao governo, numa perspectiva de dissolução da Assembleia da República na “janela da dissolução” que ocorre entre Abril e Setembro de 2010 (mais coisa menos coisa).
A importância deste processo decorre das implicações que possa ter na estrutura dirigente do Partido Socialista, de não haver pessoas ligadas ao PSD aos actos investigados e de o governo não ter capacidade para aguentar o desgaste que uma acusação destas provoca.
Daqui decorrem as movimentações em torno da liderança do PSD, ou seja, quem ganhar as directas do PSD arrisca-se a ser Primeiro-Ministro, mais cedo do que seria previsível.
Talvez por isso esta “febre” de empurrar Marcelo Rebelo de Sousa para a corrida, como se ele fosse um jovem imberbe que se deixasse levar por estes elogios de “crocodilo”.
Os “mentores” desta pressão não conhecem, minimamente, Rebelo de Sousa, apesar de terem a obrigação de o conhecer, e ficcionam dois cenários completamente virtuais.
O primeiro é do que ele se candidataria sob pressão de meia dúzia de pseudo notáveis, que são co-responsáveis pela campanha eleitoral que determinou a derrota de Manuela Ferreira Leite.
O segundo é o de que Marcelo Rebelo de Sousa os acolheria no seu seio, ou seja na cúpula dirigente do PSD, na velha máxima de mudar as moscas para ficar tudo na mesma.
Nada de mais errado, se Rebelo de Sousa se candidatasse e ganhasse as eleições directas no PSD, a facção, como ele chamou ao grupo de Manuela Ferreira Leite, iria toda para casa, com poucas excepções.
Só que, a questão subjacente a esta pressão é outra. Como essa facção não quer perder o poder porque está obcecada em regressar ao governo, numa perspectiva de exercer o poder pelo poder, pretende que Marcelo Rebelo de Sousa diga que não se candidata, para que alguém, em nome da “pátria” se ofereça em sacrifício, para a liderança do PSD.
(Publicado no Semanário Grande Porto, edição de 6/11/2009)