segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A emigração, de novo

Nos anos sessenta, os portugueses viram-se obrigados a emigrar para a Europa, à procura de trabalho e de melhores condições de vida. Era mão-de-obra não qualificada, mais barata do que a dos países que acolhiam os nossos emigrantes.
Esse fluxo emigratório, que despovoou o interior do nosso País, injectou na economia portuguesa muita liquidez, ao ponto de as remessas dos emigrantes serem consideradas fundamentais para o equilíbrio da balança de pagamentos.
No final dos anos noventa, Portugal passou a ser um País de imigração, com a chegada de trabalhadores do leste e do Brasil.
Hoje, quando a Europa e o nosso País atravessam uma crise sem fim à vista e sem que os dirigentes políticos tenham capacidade para a resolver, os portugueses viram-se para a África de expressão portuguesa.
São já mais de 80 mil os portugueses emigrados em Angola. Aquele país africano é visto como a saída profissional para trabalhadores e empresários portugueses, ao ponto de dois voos diários serem insuficientes para fazer a ligação a Luanda.
Mas, desta vez, quem emigra são quadros e empresários, ou seja, mão-de-obra qualificada que não tem uma oportunidade em Portugal e que parte, não num regresso ao passado colonialista, mas numa perspectiva de futuro.
Sempre defendi, e continuo a defender, que Portugal não se podia esgotar na Europa e deveria abrir-se ao continente africano.
Os sucessivos governos portugueses não conseguiram, nunca, ultrapassar o "complexo colonial" e foram incapazes de estabelecer uma parceria estratégica de desenvolvimento económico e cultural com os países de expressão portuguesa.
Na ausência do poder político, são os portugueses que fazem essa interacção e que partem à procura de melhores condições.
Estes "novos emigrantes" podem transformar-se em emigrantes de longa duração, com a criação de raízes e sem vontade de regressar.
Em sentido contrário, o poder angolano, investe em Portugal e vai tendo uma palavra a dizer em sectores fundamentais da nossa economia.
Os tempos são, inevitavelmente, de mudança, mas muitos teimam em não querer entender esta realidade.